Sunday, November 30, 2008

E se hoje fosse um dia qualquer?


Se hoje fosse um dia qualquer, estaríamos a aproveitar o facto de amanhã ser feriado e estaríamos num sítio qualquer a falar das tretas do costume. A fazer piadas parvas sobre as pessoas parvas que nos aparecessem pelo caminho. Com as queixas do teu trabalho e do meu mestrado. Mas já não é possível. Já não cá estás. A doença levou-te para longe dos teus amigos, dos teus pais,da tua familia e dos teus colegas.

Hoje fazem 6 anos que desapareceste. Fazem 6 anos que as saudades não páram de aumentar. A nós restam-nos as memórias das conversas, dos momentos, das piadas e das risadas. Pena que com o tempo, a memória das coisas mais simples e básicas, como apertos de mãos, o som da voz e os tiques mais elementares se comecem a desvanecer. Mas os momentos, esses ninguém mos tira. São pedaços de história congelados no tempo que guardo e os levo para todo o lado.

Há 6 anos atrás, estava um dia frio e um cemitério cheio de pessoas que quiseram despedir-se de ti. Poucos dias antes, fui eu que o fiz sentado à beira da tua cama do hospital. Foste forte, não quiseste chorar apesar de saberes a gravidade da tua situação. Eu acreditei sempre que serias forte para ultrapassar esse momento. Nunca sonhei que seria o último aperto de mão, a última conversa banal. Se o soubesse tentaria preparar palavras intemporais para me despedir de ti, palavras que levasses para onde estás e nunca esquecesses este teu amigo. Palavras que te diriam que foste o meu primeiro grande amigo de infância e foste das poucas pessoas que nunca desistiu de mim quando todos os outros o fizeram. Que eras das poucas pessoas a quem eu confiaria a minha vida. Juro que o faria se o soubesse. Juro que o faria se pudesse.

Logo após o teu funeral, decidimos homenagear-te. Fomos todos juntos para um local tranquilo,conversar. Parece estranho que o tenhamos feito logo após um funeral mas conseguimos fazê-lo. Como se estivesses ali, junto de nós. Alguém uma vez disse que uma pessoa só morre quando a última pessoa que se lembra dela, morre também. Da minha parte posso-te dizer que levo o que de bom tinhas e nos deste para todo o lado. Da minha parte, digo-te que o irei fazer enquanto respirar. Gostava de dizê-lo à tua frente. Mas não posso.
Despeço-me de ti como alguém se despediu da minha avó no seu funeral:
"Até um dia destes ..."

Quem me dera que hoje fosse um dia qualquer...

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4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Sabes que não sei o que é perder o mlehor amigo da forma como o perdeste, mas sei o que ele significava para ti. Sei que ele vai acompanhar-te o resto da tua vida.

01 December, 2008 20:05  
Blogger Gonçalo Mouta said...

Podes sim, é claro que podes...

06 December, 2008 15:00  
Blogger Ângela said...

Hj é um dia qualquer. E todos os dias serão assim.
Porque quem amamos só morrerá verdadeiramente se deixarmos de pensar neles e de os considerar como parte de nós.
Bj gde

11 December, 2008 10:46  
Blogger Balbino said...

Morreu um poema

30 December, 2008 08:57  

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